quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Tomar coca-cola com você

Eu achei lindo o poema....


Tomar coca-cola com você 

(transcontextualização de Ricardo Demeneck)

É ainda mais divertido que ir a São Francisco, La Jolla, Tijuana, Tecate, Enseada, ou ter o estômago revirado de enjôo na Madison Avenue em Nova Iorque. Em parte porque nesta camisa laranja você me parece um São Francisco melhor e mais feliz. Em parte por causa do meu amor por você, em parte por causa do seu amor por vodka, em parte por causa das margaridas laranjas fluorescentes cercando os ipês, em parte por causa do mistério que nossos sorrisos vestem diante de gente e estatuaria.

É difícil de acreditar quando estou com você que pode haver algo tão imóvel, tão solene, tão desagradavelmente definitivo quanto estatuaria quando bem em frente no ar quente das quatro da tarde em São Paulo nós vagamos em círculos um entre o outro, sem parar como uma árvore respirando por suas oftálmicas.

E a exposição de retratos parece não ter qualquer rosto, só tinta você de repente pergunta-se por que diabos alguém deu-se ao trabalho de fazê-los, eu olho você e preferiria olhar você a todos os retratos do planeta com exceção talvez do Auto-Retrato com corrente de ouro de vez em quando que está no MASP. A que graças aos céus você ainda não foi então podemos ir juntos pela primeira vez e o fato de que você se move tão lindo resolve mais ou menos o Futurismo, assim como em casa eu nunca penso no Nu Descendo uma Escada ou num ensaio um único desenho de Da Vinci ou Michelangelo que antes me boquiabria, e de que adianta aos Impressionistas toda a sua pesquisa quando eles nunca conseguiam a pessoa certa para encostar-se à árvore ao pôr-do-sol? Ou a propósito Marino Marini se ele não escolheu o cavaleiro com o mesmo cuidado que o cavalo é como se eles tivessem sido fraudados em alguma experiência maravilhosa que eu não pretendo desperdiçar o motivo pelo qual estou aqui falando tudo isso para você.


(Ricardo Demeneck)

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